quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A NATUREZA DA COMUNHÃO COM CRISTO


Leitura Bíblica: Cântico dos Cânticos 1:12-17


Introdução


O nosso assunto é: “A Natureza da Comunhão com Cristo”, portanto, é oportuno definir com maior justeza o sentido do termo: “Comunhão”. O Ap. João confessava: “Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo” 1 Jo.1:3. Logo, a idéia central fala de um relacionamento e de uma união participativa com alguém. Cristo disse: “Eu sou a videira, vós, os ra­mos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim (sem esta união vital) nada podeis fazer” Jo.15:5. Percebemos a natureza desta comunhão por causa da interação entre Cristo e o seu povo. Ele “amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela”. E, de modo semelhante, a Igreja ama o seu Senhor, e a si mesma se entrega a Ele para lhe ser submissa em todas as coisas, conforme o claro ensino das Escrituras Sagradas, Ef.5:22-25. Na Ceia do Senhor, temos outro exemplo desta comunhão espiritual: a Igreja reunida, a fim de lembrar-se de Cristo e de seu sacrifício vicário. “Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo?” 1 Co.10:17. Esta comunhão com Cristo tem um efeito transformador e santificador sobre a vida da Igreja, por­que, até certo ponto, o que Cristo experimentou, o seu povo também experimen­ta. Observemos o repetido uso da preposição “com”, para descrever a natureza desta comunhão participativa. Somos co-herdeiros com Cristo e seremos glorifi­cados com Ele, Rm.8:17. O nosso velho homem foi crucificado com Cristo a fim de destruir o domínio do pecado sobre a nossa vida, morremos com Ele, e ressuscitamos com Ele a fim de andarmos em novidade de vida com Ele, Rm.6:1-9. A essência desta comunhão espiritual no Livro do Cântico dos Cânticos é um diálogo através do qual a Igreja declara o seu amor e dedicação a Cristo, e Ele responde com palavras de encorajamento que comunicam a intensidade do seu amor e aprazimento para com o seu povo. A Igreja contempla a Pessoa de Cristo e confessa: “Ó Amado de minha alma!” E Ele logo responde: “Eis que és formosa, ó querida minha, eis que és formosa”.

1. A Devoção da Igreja, Vs.12-14


Aqui, a Igreja está contemplando o seu Soberano, buscando palavras para exprimir o que sente nessa hora de reflexão espiritual. O exercício do silêncio, isto é, quando deixamos de nos preocupar com assuntos seculares e dedicamos um tempo específico para meditar sobre a Pessoa de Jesus Cristo, é muito necessário para alcançarmos uma comunhão espi­ritual mais repleta de sentido.

a)     Os títulos atribuídos a Cristo. Quando nos dirigimos a alguém, confes­sando os seus títulos, a nossa atitude deve ser muito mais do que uma mera formalidade, antes, deve refletir uma verdadeira admiração e reverência à pes­soa contemplada. Neste memento, Cristo é intitulado:

         I.            Como “Rei”. A Igreja reconhece um único Soberano, Jesus Cristo. Ele é o Rei Eterno sobre o seu povo. Nesta confissão está implícita uma rendição incondicional. Quando Natanael descobriu a divindade de Cristo, ele imediatamente exclamou: “Mestre, tu és o Filho de Deus, tu é o Rei de Israel” Jo.1:49. No Salmo 24, Cristo é visto como Rei da Glória, o Rei forte e poderoso nas bata­lhas, porque Ele triunfou poderosamente sobre todas as potestades das trevas quando morreu vicariamente sobre a cruz do Calvário, Cl.2:15. Qual deve ser o efeito destas verdades sobre a nossa vida? Que a resposta do Salmista seja a nossa: “Ao Rei consagro o que compus” Sl.45:1. A totalidade dos nossos afaze­res deve ser consagrada ao Rei, como uma oferenda de gratidão por tudo o que recebemos das mãos dele.

       II.            Como “meu Amado”. Está intrínseco nesta designação um amor singular. Nós amamos a Cristo porque Ele nos amou primeiro. Por que fomos cativados por Cristo? Acreditamos no seu amor para conosco, porque, sendo nós ainda pecadores, Ele deu a sua própria vida em resgate por muitos, a fim de nos salvar da condenação que os nossos pecados mereciam. O Salmista fez uma exclamação retórica diante do Senhor: “Quem mais tenho eu no céu?” E logo em seguida, respon­de a sua própria pergunta: “Não há outro em quem eu me comprazo na terra”. E, em outro lugar, reafirma: “Digo ao Senhor: Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo, senão a ti somente” Sl.73:5; 16:2.
b)     O lugar onde se encontra. “O Rei está assentado à sua mesa”. É aqui que a Igreja desfruta da presença de Cristo. A mesa de um rei sempre representa uma abundância de privilégios especiais, porém, é um lugar onde as restrições imperam, pois somente convidados podem experimentar esta comunhão imediata com o monarca. No Antigo Testamento, a figura da mesa também ilustra o que Deus providencia para o seu povo em termos de necessidades. Quando o Salmista confessou a bondade de Deus, ele disse: “Preparas-me uma mesa na presença de meus adversários”, certamente estava testificando das providências divinas pa­ra desarmar, vitoriosamente, as armadilhas de seus inimigos, Sl.23:5. No Novo Testamento, reconhecemos a realidade desta mesa que Ele mesmo preparou e na qual oferece a seus convidados toda sorte de bênçãos espirituais, tais como: Eleição, o privilégio de sermos incluídos em seus propósitos salvadores; Adoção de filhos, quando nos tornamos membros da família celestial; Redenção, libertação das conseqüências judiciais do pecado, pois o resgate foi pago com o sangue do próprio Filho de Deus; Remissão dos pecados, porque o sangue de Jesus nos purifica de todo o pecado; o Dom do Espírito Santo, que é o selo e a garantia do nosso recebimento da parte de Deus, e cujo ministério é consolar e fortalecer o seu povo em todas as suas tribulações, Ef.1:3-14. Uma das promessas mais su­gestivas que Cristo deu a seus discípulos é: “E eu vos destino o reino (...) para que comeis e bebeis à minha mesa no meu reino” Lc.22:29-30. Uma clara referên­cia à fartura dos privilégios especiais que os salvos terão no céu, ao lado de seu Salvador. Esta é uma das muitas recompensas que desfrutaremos por termos permanecidos fiéis durante a nossa jornada neste mundo. Na Ceia do Senhor, somos motivados a relembrar estas sublimidades do sacrifício vicário de Jesus Cristo, nosso Redentor e Salvador.

c)      O efeito deste encontro. “O meu nardo exala o seu perfume”. Na presença de Cristo, assentados com Ele nos lugares celestiais (Ef.2:6), o nosso “nardo exala o seu perfume”, isto é, todas as bênçãos espirituais que transformaram a nossa vida se tornam cada vez mais evidentes diante de todos os nossos conhecidos. “Porque nós somos para com Deus, o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem”. Devemos nos esforçar, com toda diligência, para que o nosso procedimento exale um “aroma de vida para vida” 2 Co.2:15-16.

d)     A intensidade desta devoção. Nos versículos 13 e 14, a Igreja usa duas figuras, com o mesmo sentido básico, para descrever as suas impressões da per­feição de Cristo, enquanto está assentada com Ele à sua mesa. “O meu Amado é para mim um saquitel (um saco grande) de mirra (...) um racimo (uma braçada enor­me, não apenas um só ramo) de flores de hena”. Mirra e flores de hena eram in­gredientes utilizados para produzir perfumes que acompanhavam aspectos do cul­to no Templo em Jerusalém, portanto, simbolizando a perícia da obra redentora de Cristo que faz o nosso culto aceitável diante de Deus. Aqui, a Igreja está contemplando a perfeição e a suficiência do sacrifício substitutivo de seu Amado. Esta verdade, Cristo e este crucificado, por ser tão preciosa, foi co­locada “entre os seus seios”, isto é, dentro do coração, como um tesouro de valor inestimável. A frase: “O meu Amado é para mim”, pede uma qualificação, assim, quando alguém nos pede a razão deste amor que há em nós, estamos preparados para explicar: porque Cristo já foi colocado dentro do nosso coração, como Senhor e o mais Amado, 1 Pe.3:15. Não é apenas a Igreja que fica tão ma­ravilhada com a suficiência do sacrifício substitutivo de Cristo, mas, também, os muitos anjos ao redor do trono celestial são constrangidos a proclamar em grande voz: “Digno é o Cordeiro que foi morto para receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra; e glória, e louvor” Ap.5:12. Foi João Batista que proclamou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” Jo.1:29.

2. O Deleitamento de Cristo, Vs.15


Neste versículo, Cristo está declarando o seu amor e como Ele se sente depois de ouvir as palavras aprazíveis da sua Igreja. Ela tinha entesourado em seu coração as verdades consoladoras de Cristo e este crucificado. Quando a Santa Ceia foi instituída, Jesus acrescentou: “Fa­zei isto em memória de mim” Lc.22:19. A sua vontade é que nós nos lembremos de que fomos adquiridos por preço altíssimo. Esta lembrança do amor sacrifical de Je­sus Cristo é uma fonte de forças vitoriosas na hora da tribulação. Os perseguidos no Livro do Apocalipse “venceram por causa do sangue do Cordeiro”, porque este sangue representa a prova do amor de Jesus para conosco.  Cristo começa a sua declaração de amor usando o advérbio “eis”. Esta palavra se constitui em exortação para ouvir e considerar com máxima atenção as palavras que se seguem. Veja como Cristo avalia a sua Igreja.

a)     A formosura da Igreja. Para ter um conceito melhor desta avaliação, Cristo usa um hebraísmo, repetindo duas vezes a mesma frase a fim de intensi­ficar o que está afirmando: “Eis que és formosa, ó querida minha, eis que és formosa”. Não convém ficar demasiadamente introvertido, relembrando as quei­maduras, devemos elevar as nossas meditações para além de nós mesmos e ouvir o que Cristo diz a nosso respeito. Ele não nos vê disformes pelo pecado, antes, por causa da nossa regeneração e por causa do perdão dos nossos pecados, temos um aspecto bem diferente, fomos lavados, santificados e justificados, 1 Co.6:11. Se Cristo nos visse ainda em nossos pecados, Ele estaria negando a suficiência da sua morte para transformar a nossa vida. Mas a sua morte é supernamente efi­caz, por isso, declara enfaticamente: “Eis que és formosa”. A Igreja precisa aprender a contemplar a si mesma através dos olhos de seu Redentor. Fazendo assim, ela pode agradecer e confessar: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã”, ela efetuou a atual formosura, 1 Co.15:10.

b)     A singularidade da Igreja. O deleitamento de Cristo é percebido através das palavras que Ele escolhe quando se dirige à Igreja. “Ó minha querida”. Não devemos questionar e nem duvidar da singularidade do amor de Cristo para com a sua Igreja. O Ap. Paulo sentia uma confiança intensa podendo confessar: “Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela” Ef.5:25. Observe como o Apóstolo, em dados momentos, deixa o geral: “Cristo amou a Igreja”, a fim de chegar ao particular: “Vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” Gl.2:20. E a prova reiterada de seu amor para conosco é sua morte substitutiva: “Ele a si mesmo se entregou por mim”. O amor pode ser demonstrado de modo geral, e não duvidamos desta verdade preciosa; contudo, em momentos de tribulação, quando a presença de Deus não tão palpável, che­gamos a perguntar: Acaso Cristo me ama? Se me amasse, por que Ele está me dei­xando sofrer tanto? Embora não tenhamos respostas para tudo, devemos nos lembrar desta verdade: “Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo que, enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor; visto que andamos por fé e não pelo que ve­mos” 2 Co. 5:6-7. E, por esta fé, declaramos, confiadamente: “Porque sei em que tenho crido e estou certo de que Ele é poderoso para guardar o meu depósito (a minha alma que confiei aos cuidados dele) até aquele Dia (Dia da Segunda Vinda de Cristo e do Juízo Final)” 2 Tm.1:12. Muitos gostam de usar a coletividade quando confessam a fé: “Nós cremos em Cristo”, porém, embora seja  verdade em termos gerais, nem sempre expressa a realidade individual. Salvação e comunhão espiritual com Cristo são experiências particulares. Feliz a pessoa que pode testemunhar: “Eu sou do meu Amado, e o meu Amado meu” Ct.6:3.  Gabriel reconheceu a individualidade do amor quando disse a Daniel: “E eu vim, para te declarar, porque és mui amado” Dn.9:23. Cada um de nós, individualmente, temos que desenvolver a nossa salvação com temor e tremor, porque Deus é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” Fl 2:12-13.

c)      A mansidão da Igreja. Cristo disse à sua Igreja: “Os teus olhos são como os das pombas”. Muitas vezes, os olhos são figuras que descrevem o caráter in­terior de uma pessoa: a sua imoralidade, “os olhos cheios de adultério” 2 Pe.2:14; a sua inteligência, “os olhos do vosso coração” Ef.1:17-18; o seu orgulho, “os olhos dos altivos” Is.5:15. E os olhos como os das pombas indicam a mansidão que caracteriza os crentes verdadeiros em Cristo Jesus. Mansidão é apenas uma das partes do fruto do Espírito Santo. Cristo destaca este aspecto porque a Igreja, quando ultrajada, não revida com ultraje, 1 Pe.2:23; ela não paga a ninguém mal por mal, antes, se esforça para fazer o bem perante todos os homens e, quando injustiçada, não procura vingar-se a si mesma, preferindo entregar tudo àquele que julga retamente, porque está escrito: “A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor” Rm.12:17-19. Cristo sente grande prazer quando contempla os olhos do seu povo, porque eles são como as janelas do coração, onde se vê todas as graças que adornam a vida de cada um de seus redimidos. Além da mansidão, muitos crentes são reconhecidos por terem outros destaques que exaltam o nome de Cristo: Abraão foi reconhecido por sua fé inabalável, Rm.4:19-21; Jó, por sua paciência no meio da tribulação, Tg.5:11; Davi, o mavioso salmista de Israel, 2 Sm.23.1; Apolo, homem eloqüente e poderoso nas Escrituras, At.18:24; e, o Ap. João, o discípulo amado, Jo.19:26. Se Jesus olhasse dentro dos nossos olhos, qual seria o seu comentário? E quando deixarmos este mundo, por qual característica seremos lembrados? Cristo usou uma frase muito sugestiva quando mandou os seus discípulos numa missão evangelística, enviando-os para um mundo onde os lobos vorazes habitam: “Sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas”, tendo uma vida transparente que revela a presença de uma orientação superior, Mt.10:16.


3. A Dedicação da Igreja, Vs.16-17


Chegamos aos últimos versículos deste primeiro capítulo, nos quais a Igreja testifica da formosura de Cristo e do prazer de ter comunhão com Ele. No versículo anterior, Cristo revelou o seu amor para com o seu povo e como se alegra em descobrir o fruto do Espírito na vida deles. Agora, é a vez de a Igreja confessar o seu amor e a sua dedicação a Cristo. Um dos primeiros deveres da Igreja é amar o seu Senhor de todo o coração. O Ap. Paulo fez uma veemente advertência aos Coríntios: “Se alguém não ama o Senhor Jesus Cristo, seja anátema” (que seja amaldiçoado e visto como uma pessoa detestável), 1 Co.16:22. Muitos cristãos têm o nome de Cristo nos lábios, contudo, não tem um amor verdadeiro em seu coração. O verdadeiro amor sempre se manifesta através da obediência. Cristo sentenciou: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” Jo.14:15. Fomos criados com uma capacidade inata para amar, portanto, devemos direcionar esta habilidade àquilo que agra­da a Deus. Depois da queda infeliz do Ap. Pedro, Cristo não exigiu dele nenhu­ma explicação, antes, limitou-se a fazer a única pergunta que tem uma importância eterna: “Simão, filho de João, tu me amas?” Apesar da sua triste falta, Pedro, profundamente arrependido, respondeu com uma voz trêmula: “Senhor, tu sa­bes todas as coisas, tu sabes que eu te amo” Jo.21:15-17. E a Igreja continua, com a mesma voz hesitante, porém, sincera, reafirmando o seu amor e dedicação ao seu Amado.

a)     Os nomes que a Igreja escolheu. Notemos a intimidade das três palavras que ela usou para descrever a natureza da Pessoa de Cristo, bem como as três palavras sugestivas para descrever a convivência desta comunhão espiritual com Cristo.

I.            “Como és formoso”. Cristo acabou de elogiar a sua Igreja, dizendo: “Eis que és formosa”. Mas, como um ato de dedicação, ela devolve este elogio ao seu Amado, como se estivesse dizendo: Eu não sou digna de ser chamada de formosa, pois sou morena; mas tu, tu és o único que és verdadeiramente digno de receber este título. A Bíblia nos oferece outro exemplo deste tipo de devolução. A Igreja de ambos os Testamentos, representada pelos vinte e quatro anciãos, cada um já premiado com uma coroa de ouro, ao dar glória, honra e ação de graças, e, sentindo a sua indignidade, depositou as suas coroas de ouro diante do trono, proclamando: “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criastes, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas” Ap.4:4,9-11. A formosura de Cristo deve ser interpretada espiritualmente, isto é, devemos contemplar as qualificações que adornam a sua Pessoa. “Nos teus lábios se extravasou a graça; por isso, Deus te abençoou para sempre” Sl.45:2. “O Verbo se fez carne e habi­tou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória (seu poder para fazer obras miraculosas), glória como do unigênito do Pai” Jo.1:14. “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” Hb.1:3. Quais fo­ram as impressões daqueles soldados, quando, depois de terem se encontrado com o Senhor Jesus, foram constrangidos a confessar: “Jamais alguém falou como es­te homem” Jo.7:47. Ou, da mulher samaritana, quando convidou, jubilosamente: “Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?!” Jo.4:29-30. Ou, ainda mais, quando aquela mulher adúl­tera ouviu a sentença do Senhor Jesus: “Nem eu tampouco te condeno: vai e não peques mais” Jo.8:11. Através destes, e muitos outros exemplos, entendemos o que significa descobrir e contemplar a formosura de Cristo.

II.            “Amado meu”. Devemos sentir a ênfase sobre o pronome possessivo, “meu”. Cristo é confessado por muitos, porém, de uma maneira específica, devemos declarar: Ele é “meu”, porque tive um encontro pessoal com Ele. “Nós amamos por que Ele nos amou primeiro” 1 Jo.4:19. O Ap. Pedro, falando da preciosidade de Cristo, acrescentou: “A quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma” 1 Pe.1:8-9. Devemos estudar as Escrituras Sagradas e orar para que alcancemos esta mesma certeza individual: “Cristo, Amado meu”.

III.            “Como és amável”. A condescendência de Cristo é a prova de seu amor para conosco.  “Em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo” Ef.1:4-5. O Ap. Paulo sentiu o poder desta condescen­dência quando testemunhou: “Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério, a mim, que, noutro tempo era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade” 1 Tm.1:12-13. Por isso, ficou tão maravilhado que repetia várias vezes: “Cristo me amou”. “Como és amável!” O Ap. Pedro experimentou esta preciosa condescendência. Ao reconhecer a divindade de Cristo, ele “prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador”. Mas, Jesus não se retirou, por­que ele veio para buscar e salvar pecadores, tais como Pedro ou qualquer um de nós, Lc.5:8. Quando sentimos a condescendência de Cristo para conosco, somos constrangidos a exclamar: “Como és amável!”

b)     As três palavras que descrevem a intimidade da nossa comunhão espiritu­al com Cristo podem ser entendidas como sinônimas: leito, casa e caibras, pois descrevem a mesma experiência. Notemos o uso do pronome “nossa”. Tudo o que eu possuo pertence também a Cristo; nada é exclusivamente meu; por isso, “as traves da nossa casa”. Comunhão é possível somente com a presença de duas ou mais pessoas. “O nosso leito” descreve o descanso que temos junto de Cristo. Ele nos convida: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma” Mt.11:29. “A nossa casa” descreve o local onde podemos ficar a sós com Cristo. Esta frase é muito sugestiva: “Estando Jesus à parte, achavam-se presentes os discípulos”. Era um tempo a sós com o Mestre, tempo de comunhão espiri­tual. “Os seus caibros” (um tipo de passadouro, ladeado com árvores que se encontram nos parques das grandes propriedades e que foram feitos para passei­os de lazer), oferecem um ambiente para meditação. Portanto, comunhão com Cristo significa descansar nele; tê-lo como Senhor do nosso lar; e, andar com Ele em todos os nossos empreendimentos, em todas as circunstâncias, pois estas são oportunidades para desfrutar de uma intimidade com Cristo. Que seja assim em todos os momentos do nosso viver!

Uma Ponderação Final

O que podemos concluir de tudo o que temos estudado até aqui sobre a natureza da comunhão espiritual com Cristo? É uma união de confiança entre duas ou mais pessoas; é um diálogo caracterizado por respeito mútuo; e é uma convivência harmoniosa, onde as duas partes desejam a companhia uma da outra, a fim de desfrutar de seus respectivos valores.

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