quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A PRECIOSIDADE DA COMUNHÃO ESPIRITUAL


Leitura Bíblica: Cântico dos Cânticos, 2:1-9


Introdução


O título escolhido para este segmento visa a melhor compreensão do sentido da comunhão espiritual com Cristo Jesus. Ela é uma preciosidade porque, nela, experimentamos a suficiência da sua graça nos segurando em todos os momentos da nossa vida. Sim, um novo Cântico surge em nossos lábios, um hino de louvor ao nosso Deus, Sl.40:3.

“Se quereis saber quão doce é a divina comunhão,
Podereis mui bem prová-la e tereis compensação.
Procurai estar sozinhos em conversa com Jesus,
Provareis na vossa vida o poder que vem da cruz” HNC 128

A nossa leitura se divide em duas partes: a voz de Cristo e a voz da sua Igreja.

1. Como Cristo se Apresenta à sua Igreja, Vs.1-2


Comunhão espiritual significa ouvir e praticar o que Cristo diz ao nosso coração. “Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo” Ap.1:3; Mt.7:24-27.

a)     A exclusividade das atribuições de Cristo. Esta singularidade se re­flete na frase: “Eu Sou”, termo que exclui qualquer outro participante, como se encontra em Isaias 44:6. “Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o último, e além de mim não há Deus”. Durante o seu ministério aqui na terra, Cristo voltou a usar este termo exclusivista: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” Jo.6:35. “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” Jo.8:12. Outros procuram nos oferecer formas de alimentação e de orientação es­pirituais, porém, tudo é uma decepção traiçoeira, porque Cristo, e somente Cristo, tem o direito de cuidar dos interesses espirituais de seu povo. “O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” Jo.10:10. O Ap. Pedro reconheceu a exclusividade do ministério pastoril de Cristo quando exclamou: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna” Jo.6.68. Portanto, vamos ouvir o que Ele fala.

b)     Os lugares onde Cristo se encontra. Ele se apresenta como “a rosa de Sarom (ou, das planícies) e o lírio dos vales”. Portanto, Cristo se encontra tanto nos campos abertos, quanto nos vales férteis, onde as pessoas habitam. Cristo se faz presente no meio delas, onde os seus servos estão pregando o evangelho. As duas figuras, rosa e lírio, representam a perfeição de Cristo. A rosa, a princesa das flores, por causa da sua beleza imaculada e de seu “aroma suave”, fala do sacrifício substitutivo de Cristo, uma única oferta pelo pecado que aperfeiçoou para sempre todos quantos estão sendo santifica­dos, Ef.5:1; Hb.10:14. O lírio, por causa da sua brancura, fala da sua perfei­ta obediência, da sua pureza incontestável, que lhe deram as condições legais e necessárias para satisfazer as exigências da lei divina e abrir a porta da salvação para pecadores arrependidos. “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” 2 Co.5:21. Jesus nos deu esta promessa: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome (atendendo as Escrituras Sagradas), ali estou no meio deles” Mt.18:20.

c)      Como podemos conhecer a Cristo? Visto que Ele está nos lugares onde a humanidade habita, temos motivo de ter confiança na sua acessibilidade. Através da pública pregação do evangelho, Cristo convida a todos: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e acha­reis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” Mt.11:28-30. Para aceitar as dádivas deste convite, é necessário um mo­vimento da parte do ouvinte; ele não pode ficar parado, olhando de longe, aguardando algo misterioso. Os convites de Cristo sempre envolvem um ato de volição, um assentimento participativo, aceitando e recebendo o que Ele pre­senteia. Quando alguém nos oferece um copo de água para saciar a sede, temos que tomar em nossa mão o copo oferecido e beber o conteúdo. É assim que rece­bemos a Cristo, e, logo em seguida, sentiremos a sua presença. “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu inte­rior fluirão rios de água viva” Jo.7:37-38. Sim, é possível experimentar a ri­queza da glória, isto é: “Cristo em nós, a esperança da glória” Col.1:27.

d)     Uma semelhança entre Cristo e a sua Igreja. Descobrimos esta semelhança quando comparamos as duas frases. Cristo é “O” lírio, enquanto que a Igre­ja é “qual” o lírio. Ela não é “O” lírio, porém, tem uma certa semelhança com ele. Esta afinidade é reconhecida por causa do fruto do Espírito Santo que a Igreja manifesta. Esta semelhança é de tal modo necessária que, sem ela, é evidente que a obra transformadora de Deus ainda não começou. Eis a confirmação desta inferência: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os pre­destinou para serem conformes a imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos” Rm.8:29. É inadmissível supor o insucesso nas predestinações daquele que declarou soberanamente: “Como pensei, assim se sucederá e, como determinei, assim se efetuará” Is.14:24. “Na verdade, o povo é erva; seca-se a erva, cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus per­manece eternamente” Is.40:7-8. O grande alvo do ministério do Ap. Paulo era labutar até ser Cristo formado na vida dos crentes, ou seja, uma vida intei­ramente caracterizada pela presença e domínio de Cristo, Gl.4:19. Outro texto de igual importância é Efésios 1:4. “Assim como (Deus o Pai) nos escolheu nele (em Cristo) antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele”. Esta santidade de vida, sem a qual ninguém verá o Senhor, é a prova indiscutível do nosso favor diante de Deus. Que possamos ser diligentes a fim de alcançar esta semelhança com Cristo.

e)     Onde a Igreja se encontra. “Qual o lírio entre os espinhos”. O contraste entre a pureza do lírio e a crueldade dos espinhos não deve escapar da nossa atenção. As “filhas” aqui são vistas como os habitantes das nações pagãs, e estes são caracterizados como “espinhos”. A Igreja se encontra no meio das nações deste mundo, povos espinhosos por causa da sua oposição ao evangelho de Jesus Cristo. Ele advertiu seus discípulos, dizendo: “No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” Jo.16:33. O Profeta Je­remias queixou ao Senhor: “Fez-me habitar em lugares tenebrosos, como os que estão mortos para sempre. Cercou-me de um muro e já não posso sair; agravou-­me com grilhões de bronze” Lm.3:6-7. O Ap. Paulo também comentava sobre as suas dificuldades no ministério da palavra: “As minhas perseguições e os meus sofrimentos, quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra, (...) que va­riadas perseguições tenho suportado! De tudo, entretanto, me livrou o Senhor 2 Tm.3:11. É tão encorajador sentir a força da pergunta retórica das Escritu­ras: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou fome, ou nudez ou perigo, ou espada?(...) Em todas estas coisas, porém, somos mais que vence­dores, por meio daquele que nos amou” Rm.8:35,37. Neste contexto de vitória, no meio das tribulações, entendemos as palavras amáveis de Cristo, quando e­logiou a sua Igreja: “Tal é a minha querida entre as filhas”, as nações pagãs.

f)        Onde a Igreja serve como testemunha. “Entre os espinhos”. Quanto à missão da sua Igreja, Cristo disse: “Eis que vos envio como ovelhas para o meio dos lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas; por minha causa sereis levados à presença dos governadores e reis”. Por que Cristo deixa tantas coisas negativas acontecerem na sua Igreja? “Para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios” Mt.10:16-18. Temos que agir “como uma candeia que brilha em lugar tenebroso” 2 Pe.1:19. Cristo estabeleceu: “Vós sois a luz do mundo (...) Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens (diante dos espinhos), para que vejam as vossas boas obras (a vossa obediência à Santa Lei de Deus) e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” Mt.5:14-16. E as últimas palavras de Cristo à sua Igreja: “E sereis as minhas testemunhas” At.1:8. Pois Ele mesmo decretou: “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações” Mt.24:14.

2. Como a Igreja se Apresenta a Cristo, Vs.3-9


Comunhão espiritual não é apenas ouvir, é praticar o que Cristo diz ao nosso coração. Comunhão é diálogo; Cristo fala através das Escrituras Sagradas, e nós respondemos. Ele des­creveu a Igreja em termos da sua própria semelhança. Agora é o momento de a Igreja descrever o que sente ao meditar sobre as perfeições de Cristo.

a)       A figura da macieira, V.3. A macieira, por causa de seu fruto e da sombra que oferece, é uma das árvores mais apreciadas “entre as árvores do bosque”. Outras árvores, como, por exemplo, o cedro e cipreste, têm seu valor, porém, somente quando cortadas e industrializadas. Cristo é semelhante à maci­eira, porque Ele é vivo e satisfaz todas as necessidades daqueles que se refu­giam nele. Observemos o contraste entre a frutescência de Cristo e a futilida­de dos “jovens”, ou seja, os filhos deste mundo, cuja ocupação principal é sa­tisfazer os interesses do seu próprio egoísmo. São “mais amigos dos prazeres que amigos de Deus” 2 Tm.3:4. A Igreja, na voz do Ap. Paulo, confessa: “O mun­do está crucificado para mim, e eu, para o mundo” Gl.6:14. O mundo não tem ne­nhuma atração para os crentes verdadeiros em Cristo, porque seus interesses são outros. Veja os três anseios da Igreja:

         I.            “Desejo muito a sua sombra”. Esta sombra se refere à proteção que o Se­nhor oferece a seu povo. A Igreja está sujeita às tentações comuns à humanida­de, e, se cair, fica “queimada”, seu testemunho se torna “moreno” e o nome de Cristo desprezado pelos incrédulos. Neste contexto, a Igreja exclama: “Desejo muito a sua sombra”, a sua proteção, para não cair em tentação, para que o teu nome seja sempre honrado em todo o meu procedimento. O Salmista reconheceu: “O que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente diz ao Senhor: Meu refúgio é meu baluarte, Deus meu, em quem me confio” Sl.91:1-2. Esta sombra, esta proteção, está sempre ao nosso alcance, porque o convite de Cristo continua em pé: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, por que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Por que o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” Mt.11:28-30. Refugiados em Cristo, descobrimos a realidade do testemunho do Ap. Paulo: “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma das vossas necessidades” Fl.4:19.

       II.            “E debaixo dela (da sombra) me assento”. Quando o desejo é da vontade de Deus, deve ser acompanhado por uma ação. Quando Jesus chegou na casa de Marta e Maria, esta logo “quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos”. A atitude dela foi elogiada, “pois escolheu a boa parte”. Mar­ta, por não estar assentada aos pés do Senhor, perdeu uma boa oportunidade pa­ra alimentar a sua alma com as palavras nutritivas de Jesus. Moisés descreveu a Igreja em termos de um povo sedento para conhecer os caminhos do Senhor. “Na verdade, o Senhor ama o seu povo; todos os seus santos estão na sua mão; eles se colocam a seus pés e aprendem das suas palavras” Dt.33:3. Nesta posição, estamos preparados para receber “toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” Ef.1:3.

      III.            “E o seu fruto é doce ao meu paladar”. É importante observar que este fruto está disponível somente para aqueles que se acham assentados aos pés de Cristo e em plena comunhão com Ele. Mas, quais são estes frutos que podem sa­tisfazer o paladar espiritual da Igreja?

Devemos sempre lembrar que o fim principal da vinda de Cristo a este mun­do foi “buscar e salvar o perdido”, mediante a sua morte substitutiva na cruz do Calvário, Lc.19:10; Jo.10-11. Portanto, o primeiro fruto que podemos sabo­rear é a vida eterna. “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho (pela fé) tem a vida; a­quele que não tem o Filho de Deus não tem a vida” 1 Jo.5:11-12. A palavra de Cristo é categórica: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão” Jo.10:28. Portanto, aproxime-se dele e será salvo!

Mas existem muitos outros frutos que esta árvore oferece aos que se assen­tam debaixo da sua sombra, privilégios que nos fazem exultar com alegria indizível e cheia de glória, todos concedidos, gratuitamente, para nutrir a nossa esperança e capacitar-nos a ter uma vida abundante e vitoriosa. Podemos menci­onar estes dois:

O primeiro é o dom do Espírito Santo, pois Ele é o selo sobre a nossa salvação, Ef.1:13-14. Ele tem, também, o nome de “Consolador”, aquele que fica ao nosso lado a fim de nos confortar em nossa peregrinação terrena. Por Ele, fa­lando através das Escrituras Sagradas, somos orientados acerca da vontade de Deus para a nossa vida. Pelo testemunho do Espírito Santo, sabemos que somos filhos de Deus, Jo.14:26; Rm.8:16; Gl.4:5. Cristo prometeu: “Deixo-vos a paz,  a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” Jo.14:27. No mundo passamos por tribulações, todavia, esta paz nos oferece tranqüilidade e estabilidade mental e emocional, porque esta paz, que excede todo entendimento, é que guarda e protege a nossa mente (pensamentos) e o nosso coração (emoções), FL.4:7. Estas tribulações são permi­tidas porque objetivam a nossa maturidade nas áreas de perseverança, experiência e esperança, evidências de que o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi outorgado, Rm.5:3-5.

O segundo é a Vinda de Cristo em glória, quando os novos céus e a nova terra serão inaugurados, uma verdade que tem alimentado a expectativa da Igreja desde o início, porque neles habita a justiça, 2 Pe.3:13. O escritor aos Heb­reus expressou bem este anseio da Igreja: “Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade” Hb.11:16. E a Igreja responde: “Amém. Vem, Senhor Jesus”. Ap.22:20. Oh! Provai e vede como estes frutos são doces ao paladar espiritual.

“É Jesus meu alimento, o meu Pão celestial.
Do mais vero e santo gozo Ele é o meu manancial” HNC 160.

b)     Os dois símbolos de abundância e de festividade, V.4. Temos que enten­der o uso destas figuras simbólicas, a fim de descobrir a mensagem que elas comunicam.

I.            Em primeiro lugar, a Igreja reconhece a condescendência de Cristo, que sempre age de acordo com as normas do amor. “Leva-me à sala de banquete”. Mas a ênfase recai sobre o pronome: “Ele me leva, ou, Ele me conduz para dentro”. É Cristo quem toma a iniciativa para suprir as nossas muitas necessidades. Se dependesse de nós para agir em favor do nosso próprio bem espiritual, estaría­mos ainda nas trevas densas da perdição, pois, “não há quem busque a Deus” Rm.3:11. Não é o nosso amor, antes, é o amor de Cristo que nos constrange a buscar os valores espirituais. “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” Jo.15:16. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação (tipo de cobertor) pelos nossos pecados” 1 Jo.4:10.

“Um dia Cristo achou-me mui longe do meu lar,
Perdido no mundo, sem mais poder voltar!
Tomando-me em seus braços, firmou-me nos meus passos,
E agora andamos juntos, voltando para o lar” HNC 110

II.            A sala de banquete se refere ao recinto onde os reis realizavam as su­as festas suntuosas. Esta sala não era local público, aberto para qualquer pessoa, somente os convidados podiam adentrar. Por isso, o texto especifica: “Ele me conduz para dentro”. Sem esta condescendência da parte de Cristo, jamais pode­ríamos entrar. Mas, por que Cristo nos leva à sala de banquete? Ele quer nos mostrar as provisões que precisamos para viver uma vida abundante e vi­toriosa. Sobre esta mesa podemos encontrar toda sorte de bênção espiritual, “segundo a sua riqueza em glória” Fl.4:19; Ef.1:3. Desta mesa posta recebemos o alimento necessário para o nosso aperfeiçoamento e desempenho do serviço de obediência que devemos a Cristo. Quais são estes recursos que Ele indica para o nosso uso? Podemos mencionar, entre os muitos: 1) As Escrituras Sagradas, a própria revelação da vontade de Deus para a nossa vida diária. “Toda a Escri­tura é inspirada por Deus e é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” 2Tm.3:16-17. 2) Pastores fiéis, aqueles que amam o povo redimido pelo sangue de Cristo e que sabem pastoreá-lo para a glória de Deus. “Obedecei aos vossos guias e sede submissos pa­ra com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros” Hb.13:17. 3) Reuniões públicas, nas quais ouvimos e recebemos a exposição das Escrituras Sagradas, bem como o mútuo encorajamento espiritual. Por isso, somos exortados: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; an­tes, façamos admoestações (aconselhamentos, encorajamentos e consolações) e tanto mais quanto vedes que o Dia (do Juízo Final, At.17:31) se aproxima”. Hb.10:25. 4) O devido recebimento dos Sacramentos, a saber, o Batismo e a Ceia do Senhor, pois estes foram instituídos por nosso Senhor a fim de reavivar o nosso compromisso diante da Aliança da Graça e a nossa fidelidade a Cristo Jesus, At.2:41; Lc.22:19-20. Visto que os Sacramentos têm sido usados para fins supersticiosos, convém lembrar que eles não têm vida própria, isto é, o simples recebimento deles não obrigatoriamente comunica o bem. O Apóstolo fez referência a este problema, mostrando que o povo de Israel experimentou formas dos dois Sacramentos, porém, para a maioria, não lhes conferiram nenhum proveito espiritual que valesse diante da justiça de Deus. “Entretanto, Deus não se agradou da maioria deles, razão por que ficaram prostrados no deserto” 1 Co.10:1-6. Cristo, e somente Cristo, é a fonte da nossa vida espiritual. Ele mes­mo disse: “Porque eu vivo, vós também vivereis” Jo.14:19.

III.            O estandarte. Em Israel, cada tribo tinha o seu próprio estandarte de identificação, “segundo as insígnias da casa de seus pais” Nm.2:2. Cristo, por causa da sua realeza como Filho de Deus e da importância da sua Pessoa, também tem o seu próprio estandarte que tremula sobre o seu povo. Cristo con­duz a sua Igreja à sala de banquetes com todas as honrarias, sob a proteção do estandarte dele. Observemos a singularidade desta cena e o que se ouve: “Eis aqui estou e os filhos que Deus me deu” Hb.2:13. O Profeta esclarece que estes filhos foram dados “para sinais e para maravilhas” Is.8:18. São troféus da eficácia da obra redentora de Jesus Cristo e evidências inconfundíveis da graça de Deus. A insígnia do estandarte que protege este povo é “amor”. Sim, Cristo ama a sua Igreja e quer que todos saibam desta verdade. O amor de Cristo é o ponto central na experiência da Igreja. “Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse” Ef.5:25-26. O grande an­seio do Ap. Paulo era “conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimen­to” Ef.3:19. Por causa deste amor, o Apóstolo foi “constrangido” a ter uma vida cada vez mais santa e consagrada à pregação do evangelho a ponto de exclamar: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho” 1 Co.9:16; 2 Co. 5:14. Cristo resumiu a sua vontade para a Igreja, dizendo: “Novo manda­mento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” Jo.13:34. E, acrescentou: “Se me amais, guarda­reis os meus mandamentos” Jo.14:15.

c)       A oração da Igreja, V.5. Devemos nos lembrar do contexto desta oração. A Igreja fora conduzida à sala de banquetes, onde contemplou toda sorte de recursos espirituais para o seu crescimento na compreensão do amor insondável de Jesus Cristo. Ele a tomou pela mão e, com seu estandarte de amor vibrando sobre ela, anunciou o seu amor para com a Igreja. O efeito desta condescen­dência foi tão arrebatador, que a Igreja exclamou: “Desfaleço de amor”. A Igreja se sentiu incapaz de suster mais manifestações deste amor, por isso, a oração: “Sustentai-me com passas, con­fortai-me com maçãs”. Estas frutas são os alimentos, ou seja, a palavra falada que Cristo administra para fortalecer o seu povo quando este se sente en­fraquecido com o poder transcendente destas comunicações espirituais. O Pro­feta Daniel teve uma experiência semelhante quando viu uma teofania de Cristo em toda a sua glória esplendorosa. Ao contemplar esta grande visão, ele perdeu as suas forças e caiu sem sentidos, rosto em terra. Então, Cristo o fortaleceu e disse: “Não temas, homem muito amado! Paz seja contigo! Sê for­te, sê forte. Ao falar Ele comigo, fiquei fortalecido e disse: fala, meu Se­nhor, pois me fortaleceste” Dn.10:1-21. A vontade de Deus é que esta comunhão espiritual com Cristo possa encher o nosso coração “com alegria indizível e cheia de glória” 1 Pe.1:6-9. O êxtase e o regozijo são experiências essenciais para a alma do crente, porque elas promovem a santificação. Deus não nos criou para viver uma vida árida e sem nenhuma alegria espiritual; e o crente que passa um tempo prolongado sem a experiência de uma visitação que aquece o coração, será tentado a contemplar o mundo em vez de buscar as alegrias que vêm mediante a obra do Espírito Santo. A alma do homem é constituída de tal forma que anela uma realização espiritual que vem de uma influência externa, e, quando este anseio é negligenciado ou desprezado, buscará satisfação através de experiências que agradam os apetites carnais. Satanás soube trair a ingenuidade de Eva quando a ensinou a contemplar a árvore proibida como algo “agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento” Gn.3:6. O crente estará em perigo espiritual se ele permitir que os dias passem sem ex­perimentar um senso íntimo do amor de Cristo e das suas consolações. Quando Cristo deixa de encher o coração com regozijo transbordante, a alma começará uma busca silenciosa por outros amantes. Para vencer as pressões espiri­tuais que labutam contra nós, temos que assumir a mesma determinação do Salmista: “Então, irei ao altar de Deus, do Deus que é a minha grande alegria” Sl.43:4.

d)     Como Cristo respondeu a oração, Vs.6-7. Os verbos no Presente Simples dão um sentido melhor, porque a Igreja está descrevendo como Cristo respondeu a sua oração. “A sua mão esquerda está debaixo da minha cabeça e a direita me abraça”. Em vez de cair desmaiada, por causa das comunicações que recebeu de Cristo, a Igreja foi sustentada pelos braços fortes de seu Amado. A Bíblia re­gistra vários exemplos deste tipo de cuidado que Cristo tem para com a sua Igreja. “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum porque tu estás comigo” Sl.23:4. A sua presença comunica o necessário sustento. Por isso, Cristo prometeu: “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” Mt.28:20. E quem é que pode sondar a preocupação pesarosa de Cristo quando contemplou o estado degenerado da cidade de Deus, e exclamou: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram envi­ados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” Mt.23:37; Sl.87:1-7. Quando recebemos Cristo como o nosso Salvador, Ele nos segura em sua mão e, deste lugar de segurança, ninguém pode nos arrebatar, Jo.10:28. O convite de Cristo continua em pleno vigor: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” Mt.11:28. O amor de Cristo é algo sensível e sustentador; é poderoso para fortalecer o coração que se sente debilita­do por causa das comunicações da condescendência de Cristo.

Agora, em plena comunhão espiritual com Cristo, a Igreja se dirige às “fi­lhas de Jerusalém”, aqueles membros descomprometidos, que nem sempre respeitam a espiritualidade de outros. Comunhão com Cristo pode ser facilmente interrom­pida: uma visita de amigos que querem repartir conosco as últimas novidades; um telefonema de uma firma, assediando-nos com seus produtos vantajosos; e as­sim por diante. O zelo excessivo de Marta, por causa de suas prioridades in­vertidas, quase interrompeu a comunhão espiritual que Maria, a sua irmã, estava experimentando assentada aos pés de Jesus, Lc.10:38-42. O escritor destas meditações está lembrando de uma experiência quando estava se preparando para o ministério. O Colégio dedicava, periodicamente, um dia inteiro para orar. Em algumas ocasiões, a comunhão espiritual era quase palpável, e nos sentíamos elevados à “Sala de banquetes”, onde “nos fazia assentar nos lugares celesti­ais em Cristo Jesus” Ef.2:6. Mas, em plena união celestial, o sino tocava, anunciando a hora do almoço. Quase no mesmo instante, deixávamos os lugares celestiais, descíamos para a terra e perdíamos aquele contato especial. Depois do almoço, voltávamos à oração, porém, aquela intimidade não voltava. Assim, a Igreja, não querendo perder a sua comunhão especial com Cristo, pediu que as filhas de Jerusalém praticassem a devida reverência e silêncio. Quem sabe, esta foi uma das razões que levou Jesus a ensinar: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” Mt.6:6. O próprio Cristo, sentin­do a necessidade de silêncio, “subiu ao monte, a fim de orar sozinho” Mt.14:23.

Observemos as duas frases que se seguem, o nome que Cristo recebe. Ele é “meu Amado”. É bom reconfessar a nossa convicção: “Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo” Jo.21:17. A segunda frase aborda um assunto não muito reconhecido. “Nem desperteis o (meu) Amor, até que este (Ele) o queira”. Estes momentos de comunhão especial não são experiências constantes à nossa escolha. Cristo é totalmente soberano em suas visitações especiais à sua Igreja; é Ele que toma a mão dela e a leva à sala de banquetes. Talvez esta soberania esteja expressa, em parte, no Quarto Mandamento: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o Sábado do Senhor, teu Deus” Ex.20:9-10. Enquanto trabalhamos, executando as nossas responsabilidades seculares, é muito improvável ter uma comunhão intensa, por isso, Deus nos deu um dia inteiro em cada sete; e, livre das preocupações diárias, podemos experimentar um culto mais concentrado. É no Dia do Senhor que podemos esperar um encontro mais ache­gado com o nosso Amado Salvador. Chegando ao fim dos seis dias de labuta, revelamos a nossa verdadeira espiritualidade, testemunhando: “A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo:” Sl.84:2.

e)     A boa vontade de Cristo para com a sua Igreja, Vs.8-9. Temos observado que Cristo é soberano em suas visitações especiais. Às vezes, são bem intensas, outras, nem tanto. Quando falamos desta maneira, não estamos dizendo que Ele se retira de nós, deixando-nos sem amparo; antes, estamos nos referindo ao que sentimos em nosso coração.        Às vezes, sentimos a sua presença como algo in­cendiando as profundezas da nossa alma; mas, em outros momentos, a sua presença se manifesta mediante uma paz, como “um cicio tranqüilo e suave” 1 Rs.19:12. Contudo, em todos os instantes, a sua promessa (independente do que sentimos) permanece inalterada para encorajar e consolar o seu povo. “Eis que estou con­vosco todos os dias até a consumação do século” Mt.28:20. Moisés (e nós também) recebeu esta promessa da parte do Senhor para fortalecê-lo em todas as suas dificuldades como líder do povo de Israel: “A minha presença irá contigo, eu te darei descanso” Ex.33:14. “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo” Sl.23:4. Como podemos explicar estes altos e baixos que sentimos em nossa vida? Se entristecermos o Espírito Santo, Ele pode retirar de nós o seu ministério consolador. Se desviarmos os nossos olhos de Cristo, a fim de ocupar-nos com outras priorida­des, Ele pode retirar de nós a sensação da sua presença, a fim de deixar-nos experimentar as conseqüências desorientadoras deste outro interesse. Jesus deixou Pedro submergir um pouco na água quando ele retirou seus olhos dele, a fim de contemplar “a força do vento” Mt.14:22-33. Mas, seja qual for o caso, Ele é soberano em todas as suas ações e sabe o que é melhor para o nosso bem espiritual. Os três discípulos que testemunharam a transfiguração de Cristo queriam prolongar a sensação desta experiência, porém, foi-lhes repentinamente retirada, porque era-lhes necessário voltar para seu ministério no meio das multidões que os aguardavam, Lc.9:28-38.

Os vs. 8 e 9 descrevem estas mudanças que sentimos em nossa experiência cris­tã. Antes, a Igreja estava nos braços de Cristo, no gozo de uma experiência especial, agora, ela o vê de longe; antes, ela estava se esforçando para não deixar ninguém interromper a sua comunhão, agora, ela sente que o encanto da­queles momentos já passou. Mas, sentindo um vazio no coração, ela começou a clamar, pedindo o retorno do Amado de seu coração, e, aguardando a sua resposta, logo ouviu a sua voz. Cristo tem esta confiança: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” Jo.10:27. Mas, desta vez, Ele não se apresentou como antes, contudo, foi o suficiente para encorajá-la e alegrar seu coração. Veja como o texto descreve este reencontro.

I)                    Primeiro, observamos o título conferido a Cristo. A Igreja não se cansa de se referir a Cristo como “o meu Amado”. Ele é sempre o “Amado de minha alma”. O Salmista perguntou, retoricamente: “Quem mais tenho eu no céu (de quem posso buscar auxílio?)” E logo respondeu: “Não há outro em quem eu me comprazo na terra” Sl.73:25. O Senhor Jesus satisfaz, plenamente, todos os nossos an­seios espirituais. Com os nossos olhos levantados para o céu, confessamos ao Senhor: “Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo, senão a ti somente” Sl.16:2

II)                  A prontidão de Cristo. “Ei-lo aí galgando os montes, pulando sobre os outeiros”. Houve uma diminuição na intensidade da comunhão espiritual, porém, não um distanciamento de seu interesse. A Bíblia testifica da prontidão de Cristo para ouvir e para se aproximar de sua Igreja, dizendo: “E será que, antes que clamem, eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei” Is.65:24 E, num contexto semelhante, Cristo, querendo consolar os seus discípulos entristecidos e perplexos por causa da sua partida, disse-lhes: “Voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” Jo.14:3. É importante, para o nosso encorajamento, guardar em nossa memória esta verda­de: “O Senhor se agrada do seu povo” Sl.149:4. Por isso, somos incentivados: “Acheguemo-nos, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” Hb.4:16.

Às vezes, o Senhor é detido, e não pode responder imediatamente a nossa oração, porque Ele tem que vencer “montes e outeiros”, dificuldades espirituais que são invisíveis aos nossos olhos. A Bíblia tem personificado estes montes, dizendo: “Quem és tu, ó grande monte? Diante de Zorobabel serás uma campina” Zc.4:7. Em muitos casos, a natureza perversa e obstinada do pecador tem que ser primeiro subjugada, só então Deus responderá a nossa oração. O Profeta Da­niel orava, contudo, não recebeu uma resposta imediata por causa de lutas es­pirituais, por isso, o anjo Gabriel foi enviado e justificou a sua demora, ex­plicando: “Não temas, Daniel, porque, desde o primeiro dia em que aplicaste o coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, foram ouvidas as tuas palavras; e, por causa das tuas palavras, é que eu vim. Mas o príncipe do rei­no da Pérsia me resistiu por vinte e um dias; porém Miguel, um dos primeiros ministros, veio para ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia” Dn.10:12-13. Quando Cristo deu a sua vida em favor da sua Igreja, Ele obteve uma vitória esmagadora sobre todos os poderes das trevas. “E, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” Cl.2:15. A Igreja continua implorando: “Vem, Senhor Jesus”. E Ele responde, dizendo: “Certamente venho sem demora”. Com esta promessa, a Igreja logo acrescenta: “Amém”. Que seja assim, Ap.22:20.

III)                 As perfeições de Cristo. “O meu Amado é semelhante ao gamo ou ao filho da gazela”. Talvez esta frase foi inserida como um tipo de parêntese, porque a Igreja não cansa de testificar das perfeições de seu Amado. Os dois animais do texto são usados para exemplificar as virtudes de Cristo, tais como: a sua ligeireza para atender às necessidades de seu povo. “E eram eles ligeiros como gazelas sobre os montes” 1 Cr.12:8. Cristo é amoroso e gracioso. “Pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, grande em benig­nidade” Jn.4:2. “Alegra-te com a mulher da tua mocidade, corça de amores e ga­zela graciosa” Pv.5:18-19. Ele é sábio. “Livra-te, como a gazela da mão do caçador” Pv.6:5. Quando Cristo ensinava, os ouvintes se maravilhavam, dizendo: “Donde vem a este estas coisas? Que sabedoria é está que lhe foi dada?” Mc.6:2 Cristo tem cada um destes valores e muito mais. Por isso, a Igreja tem prazer em meditar sobre as suas sublimidades. O Ap. Paulo, comentando sobre a sua consagração, explicou: “Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da su­blimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor” Fl.3:8.

IV)              Como Cristo se manifestou à sua Igreja. “Eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando pelas grades”. No V.6, vimos Cristo segurando a sua Igreja com ambas as mãos, desfrutando da mais doce e especial comunhão. Mas, por alguma razão, a sensação desta intimidade foi interrompida. Porém, quando a Igreja orou, Cristo logo respondeu; mas, não para retomar aquela comunhão especial como antes. Desta vez, Cristo se manifesta detrás de uma parede. Ele nos vê claramente, olhando pelas janelas, ou, espreitando pela grade. Estas barreiras podem ser vistas como as limitações da nossa natureza que ficou prejudicada por causa do pecado que herdamos. O Ap. Paulo, comentando sobre estes impedimentos, explicou: “porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido” 1 Co.13:12. Notemos os contrastes que Ele apre­senta para o nosso encorajamento espiritual: agora, obscuramente, então, veremos face a face. Agora, em parte, então, em sua totalidade. Agora, sempre lutamos, por causa das limitações da nossa carne; todavia, aguardamos “até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em nosso coração” 2 Pe.1:19.

Qual é o ensino prático neste simbolismo? Embora tenhamos momentos preci­osos de comunhão especial, não é a experiência de todos os dias. Somente no céu é que teremos uma comunhão singular e ininterrupta. Em nosso presente estado, temos que nos contentar com uma comunhão indireta com o nosso Salvador, “por detrás da nossa parede”. Nesta circunstância, não convém depender do que sen­timos, “visto que andamos por fé e não pelo que vemos (ou sentimos)” 2 Co.5:7. Temos que desenvolver a nossa comunhão com Cristo de uma forma indireta, medi­ante a leitura diária das Escrituras Sagradas. Esta forma de comunhão espiritual nos faz exultar com alegria indizível e cheia de glória. Podemos sentir esta realidade com a exclamação do Salmista: “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia!” Sl.119:97. Cada cristão deve assumir o compromisso de ler uma porção da Palavra de Deus, todos os dias, pois sua comunhão com Cristo depende deste hábito precioso. Aquele que lê a Bíblia apenas esporadicamente, de necessidade, tem uma comunhão deficiente e perigosa com Cristo. Ele avisou: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” Mt.24:13.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

OS CONVITES DE CRISTO


 

Leitura Bíblica: Cântico dos Cânticos, 2:10-15.


Introdução


Temos observado que existem dois tipos de comunhão espiritual: a direta, uma sensação especial da presença de Cristo conosco, quase palpável; e, a indireta, um ato de fé, quando sentimos a presença de Cristo conosco, median­te a leitura das Escrituras Sagradas. Nos versículos da nossa leitura, Cristo continua “detrás da nossa parede”, falando com a sua Igreja mediante uma car­ta que lhe fora entregue. Ele não está falando face a face com ela, mas, sim, indiretamente através da leitura desta comunicação, que, na verdade, são as próprias palavras de Cristo, como se fosse a sua voz audível.

Em nossas buscas espirituais, devemos rejeitar a tendência de pensar que Deus vai falar conosco de uma maneira sobrenatural, dando-nos uma resposta direta do céu; antes, em nossos dias, a única maneira para receber uma orientação de confiança é buscá-la através do estudo da Bíblia. A nossa primeira disposição deve ser: “Pois, que diz a Escritura?” E, munido da resposta dela, podemos crer e agir, com segurança, e pela fé. O princípio do zelo espiritual é ler e meditar sobre a Palavra de Deus. “O seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite” Sl.1:2. Na ausência de uma presença sensível de Cristo, podemos discernir as suas intenções para conosco através da sua comunicação escrita. Podemos sentir a esperança que invadiu o coração da Igreja quando recebeu esta carta, pois ela logo testifica, dizendo: “O meu Amado fala e me diz”. Somos ensinados a cultivar esta convicção: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” 2 Tm.3:16-17.


1. Um Desafio para Aprender, Vs.10-13


Podemos, talvez, discernir uma reação negativa. Depois daqueles momentos de comunhão especial, quando a presença de Cristo era quase palpável, a Igreja agora se sente como se fosse meio rejeita­da, por isso, entrou num tipo de afastamento espiritual, que provocou a negligência dos meios da graça, tais como: a leitura diária das Escrituras e a oração. O Profeta Elias teve uma experiência semelhante. No monte Carmelo, “cheio do poder do Espírito do Senhor”, Elias conseguiu derrotar centenas dos profetas de Baal. Porém, depois desta vitória esmagadora, a sensação deste poder do Espírito do Senhor o deixou (um acontecimento normal, porque o poder do Espírito, com a mesma intensidade, não era mais necessário, pois os falsos profetas já tinham sido derrotados). E, sentindo meio desamparado diante da ameaça da rainha de Israel, fugiu dela para o deserto e pediu a morte, dizendo: “Basta, toma agora, ó Senhor a minha alma, pois não sou melhor do que meus pais. Deitou-se e dormiu debaixo do zimbro” - completamente exausto depois da luta contra os poderes malignos das trevas, 1 Reis, capítulos 18 e 19. Lutas espirituais podem ser extremamente desgastantes, contudo, em Cristo, somos mais que vencedores, Rm.8:31-37. Ele entende perfeitamente as dificuldades que sentimos, porque Ele mesmo foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado, Hb.4:15. Notemos que Ele fala à sua Igreja através da leitura da carta que ela recebeu. O Ap. Paulo ensinou que estes Escritos foram dados “a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” Rm.15:4. E, quais foram as primeiras pa­lavras que a Igreja leu nesta carta? “Levanta-te, querida minha, formosa minha, e vem”.

a)     Os nomes que Cristo escolheu para despertar a fé da sua Igreja. “Querida minha e formosa minha”. Cristo abre o seu coração diante da sua Igreja. Para Ele, ela é querida e formosa, comprada pelo preço de seu próprio sangue. “Cristo amou a sua Igreja e a si mesmo se entregou por ela” Ef.5:25. No contexto, a Igreja se acha um pouco afastada daquela comunhão que deve existir entre Cristo e o seu povo; uma união que se mantém através da leitura diária das Escrituras, acompanhada por orações e uma freqüência assídua aos cultos públicos, onde Cristo costuma manifestar a sua presença. É muito importante ob­servar, neste texto, que, apesar dos afastamentos e das vacilações da sua Igreja, o amor de Cristo permanece inalterado. Ele vem a seu povo chamando-o a voltar para sua presença. Aos olhos de Cristo, a Igreja, além de ser a sua querida, é também a sua formosa, em virtude da obra purificadora que opera nela, para que seja a “Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém, santa e sem defeito” Ef.5:27.

b)     Com as palavras “levanta-te e vem”, Cristo está desafiando a sua Igreja a exercer a sua fé. “Ora, o seu mandamento é este: que creiamos em o nome (e o caráter) de seu Filho, Jesus Cristo” 1Jo.3:23. Fé é muito mais do que uma mera anuência à palavra ouvida; é necessário agir de acordo com o contexto do assunto. O exemplo de Noé ilustra com clareza este princípio: “Pela fé, Noé, divinamente instruído acerca de acontecimentos que ainda não se viam e sendo temente a Deus, aparelhou uma arca para a salvação de sua Casa” Hb.11:7. Noé ou­viu o propósito de Deus, acreditou que haveria um dilúvio, e logo começou o trabalho para construir uma arca para a salvação de sua família. “Levanta-te e vêm” requer um movimento da parte do convidado. Assim, pela fé, obedecemos, levanta­mo-nos e nos apresentamos diante de Cristo. Na Bíblia, a fé é vista como um ato de obediência, atendendo as ordens que Deus dá. Alguns exemplos desta verdade são: “Vir a Cristo” Jo.6:35; “Olhando para Ele” Is.45:22; “Recebendo-o” Jo.1:12 “Fugindo para Ele como refúgio” Hb.6:18. A falta de fé é evidenciada pela falta de ação. Cristo declarou a seus ouvintes: “Também não tendes a sua palavra em vós, porque não credes naquele a quem ele enviou. Examinais as Escrituras, por­que julgais ter nelas a vida eterna, e são elas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes a vida” Jo.5:38-40. A única condição de salvação exigida nas Escrituras é “crer em Cristo Jesus”. E a Salvação é prometida absoluta e infalivelmente se esse mandamento é obedecido, Jo.7:38; At.10:43; 16:31; Gl.2:16. Crer em uma pessoa implica tanto confiança quanto crédito. “Sem fé é impossível agradar a Deus” Hb.11:6.

c)      Os motivos que Cristo apresenta à sua Igreja, para que exerça a sua fé.

I.            Levanta-te e vem, porque as dificuldades que causaram o seu esfriamento já passaram. “Porque eis que passou o inverno, cessou a chuva e se foi”. O inverno é símbolo de privações e de tristezas. Por isso, quando Jesus estava pro­fetizando sobre a destruição de Jerusalém, Ele aconselhou: “Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno” Mt.24:20. Mas, apesar das dificuldades que um inverno traz, tudo está sob o soberano cuidado de Deus, que é sempre sábio e santo. “Ele envia as suas ordens à terra, a sua palavra corre velozmente; dá a ne­ve como lã e espalha a geada como cinza. Ele arroja o seu gelo em migalhas; quem resiste ao seu frio? Manda a sua palavra e o derrete; faz soprar o vento, e as águas correm” Sl.147:15-18. Com uma única palavra de ordem, o gelo apare­ce, e, com uma palavra contrária, ele se derrete. Esta soberania opera não apenas sobre os elementos da natureza, mas, também, sobre as circunstâncias es­pirituais da nossa vida. Por isso, o Ap. Paulo afirmou, confiadamente: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” Rm.8:28. Sabemos disso, porque cremos na sobe­rania do governo de Deus sobre todas as coisas. O Senhor Jesus, discernindo o propósito de Deus, anunciou à sua Igreja: “Eis que passou o inverno, cessou a chuva e se foi”. A ordem de Cristo para a sua Igreja é que ela saia do seu es­conderijo a fim de receber as boas providências que estão preparadas para o seu encorajamento.

II.            Levanta-te e vem, porque há uma nova vida à sua espera. “Aparecem as flores na terra, chegou o tempo de cantarem as aves, e a voz da rola ouve-se em nossa terra”. A dormência do inverno já passou, eis que a vitalidade da primavera está se manifestando por toda parte. Tudo é bonito, agradável e cheio de vi­da. “Vinde e vede as obras de Deus: tremendos feitos para com os filhos dos homens” Sl.66:5. As maiores obras de Deus são aquelas que Ele tem feito em favor do homem, tal como a sua redenção pelo sangue de seu próprio Filho. As flores podem representar as habilidades, ou dons espirituais que recebemos em Cristo. “Quando Ele (Cristo) subiu às alturas (depois de ter ressuscitado dentre os mortos), levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens” Ef.4:8. Em outra parte, a Igreja foi conduzida “à sala de banquetes” onde viu as providências divinas para “vivermos uma vida abundante e vitoriosa”. Agora, a Igreja é convi­dada para contemplar as flores, ou seja, a graça que Cristo derramou sobre o seu povo, a fim de capacitá-lo a realizar tarefas específicas. O Ap. Paulo confessou: “Não sou digno de ser chamado apóstolo, (...) mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, tra­balhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” 1 Co.15:9-10. O Senhor é servido em chamar o seu povo redimido para execu­tar a missão de evangelização do mundo e, para este fim, “dar graça (competência) aos humildes” Pv.3:34. As dádivas divinas, “a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” Jo.1:17. Sem Ele, e sem o seu acompanhamento, nada podemos fazer. Além dos recursos para facilitar o nosso serviço de amor, podemos ouvir as vozes de comunicação, o trinar das aves e o gorjear das rolas. Os motivos de gratidão manifestam-se por toda parte. As oportunidades para ouvir a mensagem do evangelho estão sendo apresentadas sem parar. Por isso, a ordem: “Levanta­-te e vem”, pois “este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele” Sl.118:24. Juntamente com o Ap. Pedro, olhamos para o Amado da nossa alma e confessamos: “Senhor, (...) tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” Lc.1:35; Jo.6:68-69.

III.            Levanta-te e vem, porque é necessário que a sua necessidade seja sa­ciada com alimento fortificador. “A figueira começou a dar seus figos, e as vides em flor exalam o seu aroma”. O convite implícito que Jesus faz, é: “To­mai e comei”. O Ap. Paulo urgiu o jovem Timóteo: “Aplica-te à leitura das Es­crituras” 1Tm.4:13. Estas são as “palavras da vida” Fl.2:16. O desânimo espi­ritual provoca a negligência da leitura diária da Bíblia, e esta, por sua vez, aumenta o abatimento espiritual. E, pior ainda, se esta negligência não for logo corrigida, o resultado pode ser a morte. Não se pode demorar: “Eis, agora o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação” 2Co.6:2. Neste con­texto, Cristo, com toda ternura, repete o seu apelo: “Levanta-te, querida mi­nha, formosa minha, e vem”. Como seria bom se existisse em nós uma prontidão espontânea, porém, infelizmente, nem sempre é assim. O pecado tem prejudicado todo o nosso ser, por isso, somos tão morosos em agir. “Ele (o Senhor Jesus), porém, é misericordioso, perdoa a iniqüidade e não destrói; antes, muitas vezes, desvia a sua ira e não dá largas a toda a sua indignação. Lembra-se de que somos carne, vento que passa e já não volta” Sl.78:38-39. “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a sua fidelidade” Lm.3:22-23. Por isso, Ele não aceita o “não” que soltamos em nossa fraqueza. O fato de que o Senhor Jesus derrama a sua graça sobre a nossa vida tão copiosamente, deve ser um motivo de constante gratidão da nossa parte. “Rendam graças ao Senhor por sua bondade, e por suas maravilhas para com os filhos dos homens” Sl.107:8

2. Um Desafio para Apressar, V.14


Cristo já chamou a sua Igreja duas ve­zes para que saísse do seu esconderijo; e, neste versículo, Ele a chama mais uma vez. Em todas as três chamadas, Ele não usou uma voz de impaciência e nem de repreensão, pelo contrário, o seu convite é carregado de amor e de compreensão. A Igreja, apesar deste momento de frieza, continua sendo: querida minha, formosa minha e pomba minha. Quem é que pode medir a misericórdia do nosso Salvador? O Salmista verbalizou o que nós sentimos diante de seus insistentes convites de amor: “(O Senhor) não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoantes às nossas iniqüidades. Pois quanto o céu se alteia acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem. Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões. Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o te­mem. Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó” Sl.103:10-14.

Notemos como Cristo escolheu um adjetivo novo para descrever como Ele vê a sua Igreja: Ela é inofensiva como uma pomba, Mt.10:16; treme como uma pomba quando ouve o seu bramir, Os.11:11; e, tem uma beleza e uma pureza: “As asas da pomba são cobertas de prata, (...) têm o brilho flavo do ouro” Sl.68:13. É importante observar que a pomba, por causa da sua pureza, foi escolhida para visualizar o Espírito Santo que ungiu o Senhor Jesus para exercer o seu ministério. “O céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz do céu: Tu és o meu Filho amado, em ti me com­prazo” Lc.3:21-22. E, de modo semelhante, o Espírito Santo desce sobre a Igreja, fazendo com que os seus membros sejam mansos e ponderados em seu Espírito, Rm.14:17.

a)     O lugar onde a Igreja se escondeu: “As fendas dos penhascos e no escon­derijo das rochas escarpadas”. A Igreja é comparada com a pomba, que, assusta­da pelo que aconteceu, fugiu para as rochas escarpadas, na esperança de achar pouso para os seus pés. Por que ela se esqueceu da segurança de seu próprio pombal? Por que escolheu estas rochas inóspitas para se recuperar de seu temor? O medo desorienta e não deixa a sua vítima agir como convém. Quando Adão comeu da árvore proibida, ele confessou: “Tive medo, e me escondi” Gn.3:10. Nesta si­tuação infeliz, Cristo chegou e disse: “pomba minha, que andas pelas fendas dos penhascos, no esconderijo das rochas escarpadas, mostra-me o teu rosto, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e o teu rosto, amável”.

Por que a Igreja tem este tempo de frieza espiritual? Por que ela é tão vagarosa para atender os chamados de Cristo? Oferecemos duas razões mais comuns, pretextos que devem ser reconhecidos como um verdadeiro perigo.

         I.            A falta de prioridades, uma vida desorganizada e omissa. Cristo esta­beleceu este padrão para o seu povo: “Buscai, antes de tudo, o reino de Deus, e todas estas coisas (as verdadeiras necessidades) vos serão acrescentadas” Lc. 12:31. Cristo nos deu um exemplo negativo do resultado desta falta de priori­dades quando contou a parábola do Semeador: “O que foi semeado entre os espi­nhos, é o que ouve a palavra, porém, os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera” Mt.13:22. Estes dois impedimentos, os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas, têm sufocado a espiritu­alidade de muitos. Aquele que fica preocupado com os “cuidados do mundo” se desculpa, dizendo: Deus tem me dado uma família, tenho que trabalhar muito pa­ra cuidar dela. Não quero que os meus filhos passem pelas necessidades que eu tive. Por isso, não tenho tempo para outros compromissos. Mas ele está se es­quecendo de uma advertência séria: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam” Sl.127:1. Tal pessoa está passível desta experi­ência: “Tendes semeado muito e recebido pouco; comeis, mas não chega para far­tar-vos; bebeis, mas não dá para saciar-vos; vestis-vos, mas ninguém se aquece e o que recebe salário, recebe-o para pô-lo num saquitel furado” Ag.1:6. E o que se deixa fascinar pelas riquezas, está susceptível ao mesmo perigo. Ele pensa que uma conta gorda no Banco resolverá todos os seus problemas. Mas a Bíblia adverte: “Quem confia nas suas riquezas cairá” Pv.11:28. “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências in­sensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição” 1 Tm.6:9. E não convém se esquecer da história de certo homem que confiava na grande quantidade de seus bens, e se gabou: “Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens prepara­do, para quem será?” Lc.12:19-20. A falta de prioridades sempre traz prejuízos espirituais. Cristo nos ensinou a orar, pedindo: “E não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal” Mt.6:13. Aquele que ora desta maneira, e confia no auxílio do Senhor, não fica iludido com tais vaidades.

       II.            Surpreendido pelo pecado. Estamos contemplando uma pessoa que não pre­viu a possibilidade de tentação e jamais planejaria uma aventura oculta. O contexto sugere que ele participou de um evento inocente, porém, foi “surpre­endido” pela transgressão. O pensamento desta palavra, no original, significa: ser repentinamente vencido pela tentação, antes de ter tempo de reconhecer a armadilha. A queda de Pedro ilustra as circunstâncias desse tipo de tentação. Ele estava preparado para enfrentar um exército, e até morrer, se fosse necessário, a fim de defender o seu Mestre amado, Mt.6:33:35. Mas, ele foi surpreendido pelo pecado porque a tentação não veio mediante um exército, pelo contrário, veio através de uma pergunta inocente de uma criada (possivel­mente uma adolescente), algo que o pegou totalmente desprevenido. Além de cho­rar amargamente, Pedro não quis enfrentar a vergonha de ter traído o Senhor, Mt.26:75. Mas, Jesus, em sua compaixão intensa, especificou o nome de Pedro quando comunicou a sua ressurreição, porque Ele estava ansioso para reencon­trar seu discípulo assustado, a fim de oferecer-lhe o perdão e a reconciliação, Mc.16:7; Jo.21:15-17.

A tendência de se esconder por causa da vergonha de admitir e confessar a falha não resolve coisa alguma. “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia” Pv.28:13. O Salmista descreve a sua experiência quando tentou encobrir a iniqüidade: “Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus cons­tantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio”. Mas observe o que aconteceu quando ele se humilhou e expôs o seu pecado: “Confessei o meu pecado e a minha iniqüidade não mais ocultei. Disse (ele tomou uma decisão): confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniqüidade do meu pecado” Sl.32:3-5. Todos nós estamos propensos a cair em tentação e sermos “surpreendidos nalguma falta”. Mas, quando isto acontece, vamos confiar nesta promessa: “Se confessar­mos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” 1 Jo.1:9. Quando Jesus nos chama a fim de compa­recer diante dele, Ele está querendo oferecer pleno perdão do pecado que invadiu sorrateiramente a nossa vida. Portanto, apressemo-nos a atendê-lo.

b)     O desejo de Cristo para ver a sua Igreja: “Pomba minha, (...) mostra-me o teu rosto”. Não tenha medo de, mim, e não fique envergonhada de chegar diante de mim; venha logo e sem demora, “porque sou manso e humilde de coração, e achará descanso para a sua alma” Mt.11:29. Para mostrar o rosto, a pessoa tem que sair de seu esconderijo e ficar de pé diante daquele que a está chamando. Mas, por que Cristo procura ver o rosto da sua Igreja? Porque o rosto dela é amável. Através do rosto, Cristo pode contemplar a totalidade da nossa pessoa. E o que Ele vê? Apesar de ser “morena”, por causa das fraquezas da carne, Ele a sua Igreja através das perfeições da sua obra redentora. “Verá o fruto do penoso trabalho da sua alma e ficará satisfeito” Is.53:11. Ele quer reafirmar este fruto ao coração de seu povo.

c)      O anseio de Cristo para ouvir a voz da sua Igreja. “Pomba minha, (...) fa­ze-me ouvir a tua voz”. O que Cristo quer ouvir através da voz da sua Igreja?

I)           Ele quer ouvir a confissão da nossa dependência da sua graça. Neste sentido, a Igreja costuma cantar:

“Ó Deus, ó Providência! Sem ti não há viver!
Vem dar-nos a assistência do teu real poder!
Tão só em ti confiamos e em tua proteção,
Pois só em ti achamos conforto e redenção” HNC.31.

O homem natural tem a tendência de confiar em suas próprias capacidades. Mas a Bíblia afirma: “Não confie, pois, na vaidade, enganando-se a si mesmo, por­que a vaidade será a sua recompensa” Jó15:31. Cristo descreveu esta dependên­cia usando a figura da videira e dos ramos, explicando: “Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo se não permanecer na videira, assim, nem vós o po­deis dar, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim, nada podeis fazer” Jo.15:4-5. Por causa da enfermidade da nossa carne, esta permanência em Cristo pode sofrer momentos de enfraquecimento, por isso, temos que cultivar uma santa dependência de Cristo. O Ap. Paulo orava a Deus o Pai, para que, segundo a riqueza da sua glória, a Igreja pudesse ser fortalecida com poder, mediante o seu Espírito no homem interior, Ef.3:16. Esta é a oração que Cristo almeja ouvir.

II)         Ele quer ouvir a confissão das nossas necessidades. A exortação bíblica é esta: “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhe­cidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças”. E qual é o resultado desta oração? O Ap. Paulo confessou a sua confiança, dizendo: “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma das vossas necessidades” Fl.4:6,19. Cristo nos deu esta orientação: “Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” Jo.15:7. Este con­vite para pedir o que quisermos é condicional, pois é necessário que o pedido esteja de acordo com a palavra de Cristo que habita em nós. “E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua von­tade, ele nos ouve” 1 Jo.5:14. E, sabendo desta liberdade que Cristo concedeu à sua Igreja, somos encorajados: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, jun­to ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” Hb.4:16.

III)        Ele quer ouvir a nossa confissão de gratidão. A atitude normal de ca­da cristão é esta: “Orai sem cessar. Em tudo, dai graças, porque esta é a von­tade de Deus em Cristo Jesus para conosco” 1Ts.5:17-18. Oramos sem cessar e, quando recebemos o que pedimos, devemos dar graças a Deus por cada manifestação da sua bondade. A frase, “em tudo, dai graças”, não inclui os atos pecaminosos dos inimigos de Deus. O Ap. Paulo nunca deu “graças a Deus” pelas cons­tantes e impiedosas perseguições que sofria, contudo, atribuiu a Deus, com gratidão, a vitória que ele experimentava no meio delas. “As minhas perseguições e os meus sofrimentos, que variadas perseguições tenho suportado! De todas, entretanto, me livrou o Senhor” 2 Tm.3:11. Ele também não deu “graças a Deus” pelos muitos males que recebeu da mão de Alexandre, o latoeiro, ao contrário, ele o entregou à justiça de Deus, 2 Tm.4:14. Quanto às circunstâncias negativas, tais como: tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, pe­rigo ou espada, não damos graças a Deus quando estes males nos assolam; con­tudo, podemos descobrir uma razão de gratidão, porque, no meio destes acontecimentos desfavoráveis, “somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” Rm.8:35-37. Sim, apesar das dificuldades, damos “graças a Deus” pelas vitórias por meio de Cristo Jesus.

Mas, quais são alguns dos motivos de dar “graças a Deus”? Destacamos, especialmente, os valores relacionados à nossa eterna salvação. O Ap. Paulo disse que Deus tem nos abençoado com toda sorte de benção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, e, logo em seguida, especificou algumas destas dádivas, tais como: Eleição (Deus nos escolheu para recebermos o dom da salvação); Adoção (Deus nos deu o poder de sermos feitos seus filhos e filhas); Redenção (fomos libertos da pena da morte que pairava sobre nós, por causa do nosso pecado); Remissão de todos os pecados; o privilégio de termos ouvido e crido no evangelho; o selo do Espírito Santo, que é também o penhor da nossa herança espiri­tual, Ef.1:3-14. Por estas, e tantas outras bênçãos recebidas, devemos sempre dar “graças a Deus”.

Por que Cristo quer ouvir a nossa voz? Porque Ele acha que a nossa voz é doce, especialmente quando usada para agradecê-lo e manifestar as nossas confissões de dependência dele; confiança nas suas providências para suprir as nossas necessidades; e, agradecimentos pelas muitas bênçãos salvadoras que Ele derrama tão copiosamente sobre a nossa vida.

3. Um Desafio para Apreender, V.15


“Apanhai-me as raposas, as raposinhas, que devastam os vinhedos, porque as nossas vinhas estão em flor”. Neste versículo, vemos as duas figuras principais: as raposas, juntamente com as suas ra­posinhas; e, os vinhedos, que já estão em flor. Entendemos que estas raposas representam os falsos mestres, que andam no meio dos membros da Igreja, “fa­lando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” At.20:30. O versículo não empregou a figura dos “fortes touros de Basã”, que são os pode­rosos e cruéis perseguidores da Igreja, antes, preferiu o simbolismo da rapo­sa, por causa da sua natureza astuciosa e traiçoeira. O Ap. Paulo, comentando sobre a natureza destas pessoas, disse: “porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo. E não é de ad­mirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz” 2 Co.11:13-14. Os vinhedos em flor representam a totalidade da Igreja, adultos, jovens, ado­lescentes e crianças. A vinha é uma figura comum nas Escrituras Sagradas para descrever a Igreja. “Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Isra­el (a Igreja visível do Antigo Testamento)” Is.5:1-7. Cristo usou a mesma fi­gura para descrever a união vital que existe entre Ele e a sua Igreja. “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim, nada podeis fazer” Jo.15:5. No versículo que estamos examinando, é Cristo, o Pastor Supremo, que fala, e Ele está se dirigindo, es­pecialmente, à liderança da Igreja, seus pastores e seus presbíteros, pois são estes que receberam a incumbência para cuidar da propriedade de Deus. “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” At.20:28.

a)     A responsabilidade dos líderes da Igreja. Esta exortação se refere à Igreja que está sendo danificada por causa da presença de raposas, ou seja, de falsos mestres. Quando Cristo subiu às alturas, Ele “concedeu dons aos ho­mens”, distribuindo-os sob o título de: “apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres”. Esta é a liderança dentro da Igreja e a sua responsabili­dade primordial é pastorear, cuidar, alimentar e proteger o rebanho contra os ataques de inimigos, ou seja, destes falsos mestres. Portanto, quem recebe es­tes homens vocacionados, recebe os dons de Cristo; e, quem os rejeita, está desprezando o que o Supremo Pastor deu à sua Igreja. Qual é a missão principal desta liderança? Trabalhar “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos, para o desempenho de seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguem à unidade da fé e o pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo”. Por que este ministério é de tão singular importância? “Para que não sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” Ef.4:7-14.

Infelizmente, a história nos ensina que esta liderança nem sempre consegue ser fiel na execução de suas responsabilidades. Quando Cristo escreveu as suas cartas para as sete Igrejas da Ásia, as suas repreensões foram dirigidas contra as lideranças, porque estas negligenciaram as suas responsabilidades, permitindo a entrada de ensinos perniciosos no meio dos membros da Igreja. Ao anjo da Igreja em Pérgamo, Cristo disse: “Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Bala­que a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrifica­das aos ídolos e a praticarem a prostituição” Ap.2:14. E, ao anjo da Igreja em Tiatira, Ele reclamou: “Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduz os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos” Ap.2:20. A liderança da Igreja em Sardes recebeu esta advertência: “Lembra-te, pois, do que tens recebido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti” Ap.3:3. A ordem inadiável é: “Apanhai-me as raposas, as raposinhas que devastam os vinhedos, porque as nossas vinhas estão em flor”. Caçai-me os falsos mestres que andam no meio do meu povo. Não os deixai com nenhuma liberdade para desorientar e devastar a minha Igreja.

Cristo não tolera infidelidade da parte daqueles que têm a responsabilidade de zelar pela pureza espiritual e moral da Igreja. Por causa de desleixos, “não faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu” Rm.14:15. O Ap. Paulo registrou a sua atitude diante de suas responsabilidades ministeriais: “E as­sim, conhecendo o temor do Senhor, persuadimos os homens” 2 Co.5:11. E, para um certo obreiro que estava começando a vacilar por causa das dificuldades em seu trabalho, o Apóstolo lhe deu esta exortação: “Atenta para o ministério que re­cebestes no Senhor, para o cumprires” Cl.4:17.

b)     A natureza dos falsos mestres. Eles devastam “a Igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” At.20:28. Cristo descreveu essa classe de pessoas como “ladrões e salteadores”. Veja o contraste entre Cristo e estes mercenários: “O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu (Cristo) vim para que tenham vida e a tenham em abundância” Jo.10:8-10. A natureza do verdadeiro pastor é caracterizada por seu amor e abnegação. Cristo afirmou: “Eu sou o bom pastor, o bom pastor dá a vida pelas ovelhas (...) Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou” Jo.10:11,17-18. O Ap. Paulo descre­veu estes ladrões como “lobos vorazes que não pouparão o rebanho” At.20:29.

O Ap. Pedro preveniu a Igreja sobre o caráter e as obras destes falsos mestres: “Assim, no meio do povo, surgiram falsos profetas (no Antigo Testamento), assim também (no Novo Testamento), haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repenti­na destruição. E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e por causa deles, será infamado o caminho da verdade; também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o Juízo lavrado há longo tem­po não tarda, e a sua destruição não dorme” 2 Pe.2:1-3. Ficamos assustados com este quadro tão negativo, porém, o nosso consolo vem desta verdade: “O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor” 2 Tm.2:19. Cada um de nós pode saber se realmen­te pertencemos ao Senhor, pois a Bíblia afirma: “Nisto conhecemos que permane­cemos nele (em Deus), e Ele, em nós: em que nos deu do seu Espírito”, cujo ministério é “testificar que somos filhos de Deus” 1 Jo.4:13; Rm.8:16. Devemos sempre lembrar que este testemunho está inseparavelmente ligado à nossa obediência ao ensino das Escrituras Sagradas. Os que não obedecem à Palavra de Deus, apesar da sua confissão religiosa, ainda estão em seus pecados, 1 Jo.5:18.

O Profeta Ezequiel descreveu os falsos pastores como devoradores, pois “se apascentam a si mesmos”. São caracterizados pelo egoísmo e pela preguiça. “Comeis a gordura, vestis-vos da lã e degolais o cevado, mas não apascentais as ovelhas”. Por causa deste desleixo em seu ministério, as ovelhas são des­prezadas. “A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza. Assim, se espalharam, por não haver pastor, e se tornaram pasto para todas as feras do campo”. Em tais circunstâncias, a Igreja sofre, contudo, Deus é fiel e deu uma promessa para alentar as vítimas destes pastores exploradores: “Assim diz o Senhor Deus: eis que estou
contra os pastores e deles demandarei as minhas ovelhas; porei termo no seu pastoreio, e não se apascentarão mais a si mesmos; livrarei as minhas ovelhas da sua boca, para que já não lhes sirvam de pasto” Ez.34:1-10.

c)      A vulnerabilidade da Igreja. “As vinhas estão em flor”. Qualquer mudança desfavorável no clima, ou, uma invasão por raposinhas, pode danificar as vinhas em flor. E, de modo semelhante, a vida espiritual da Igreja pode ser prejudicada pela influência negativa dos falsos mestres. Todos nós somos vul­neráveis ao fluxo de novidades. Em vez de reagir como cristãos amadurecidos, capazes de resistir à tentação de trair a Cristo, temos uma tendência de nos portarmos como crianças, que são facilmente “agitadas de um lado para outro e levadas ao redor por todo vento de doutrina, pelas artimanhas dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”. Ef.4:14.

Como podemos ser fortalecidos, a fim de não sermos tão vulneráveis à astúcia dos falsos mestres? O próprio Cristo nos deu a resposta quando concedeu dons aos homens, isto é, quando deu uma liderança à Igreja. A exortação é esta: “Não vos deixeis envolver por doutrinas várias e estranhas, porquanto o que vale é estar o coração confirmado com graça (...). Obedecei aos vossos guias (enquanto forem fiéis às Sagradas Escrituras) e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros” Hb.13:9,17.

A ovelha, por ser um dos animais mais indefesos, é muito vulnerável a seus inimigos. A Bíblia usa a ovelha para simbolizar a natureza vulnerável do povo de Deus. Eles nem sempre têm coragem de se defender quando atacados por falsos mestres, antes, ficam mudos perante os seus tosquiadores e não abrem a boca.

Como podemos ser fortalecidos, a fim de não sermos tão tímidos perante os inimigos da nossa alma? Em primeiro lugar, Cristo tem que ser reconhecido e confessado como o bom Pastor, que nos amou, e deu a sua própria vida, a fim de redimir e salvar o seu povo. Aqueles que verdadeiramente crêem em Jesus Cristo são recebidos como as suas ovelhas, e elas passam a receber, imediatamente, toda a proteção necessária para a sua total segurança. Ele garantiu: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão” Jo.10:27-28.

 





 

 


 

 

 

 

Conclusão


“Apanhai-me (caçai-me, o termo é de caçadores) as raposas, as raposinhas que devastam os vinhedos, porque as nossas vinhas estão em flor”. Este versículo sugere a existência de uma liderança instituída por Cristo para cuidar e proteger os interesses de Cristo, o Cabeça da Igreja. Infelizmen­te, desde os tempos apostólicos, o povo de Deus tem os seus inimigos, que a si mesmos se declaram apóstolos de Cristo e cujo objetivo é devastar a confiança que os fiéis têm na toda-suficiência de Cristo para nos conduzir à salvação. A Igreja, por estar no meio dos inimigos da verdade, fica passível aos ataques destes falsos mestres. Porém, podemos ser encorajados, porque em Cristo Jesus somos mais que vencedores. Eis a chave que Ele mesmo nos deu: “Eu sou a videi­ra, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; por­que sem mim, nada podeis fazer” Jo.15:5. Cristo, comentando sobre as dificul­dades que a Igreja tem que encarar, disse: “Neste tempo, muitos hão de se escan­dalizar, trair e odiar uns aos outros; levantar-se-ão falsos profetas, e enga­narão a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo (...) Porque sur­girão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” Mt.24:10-13,24.